segunda-feira, 11 de julho de 2011

Num dia de sol...

         Enquanto o dia entardecia,esforçava-me para levantar.O silêncio,a calmaria em nada ajudavam-me.No entanto,subitamente,corri.Era o barulho da bola batendo na grade que chamava-me.A magia começara.
        Campo lotado.A praça ferve.A bola rola.O país vai para frente!Ao menos,cinco bons de bola cabulam aula para garantir o futuro e orgulho do Brasil!Risadas,grandes palavras e belas mulheres fazem tabela entre a garotada.
- Tô de outra - digo
- Aaatá!Chego agora já que botá bronca - reclamam
       Obviamente,escolhem-me para a próxima partida.Eram todos meus amigos.
       O jogo começa;a bola passa de lá e vem para cá,sucessivamente.É diversão garantida,mesmo quando,meu time perde.Ainda brinco,riu e zombo.Meus amigos: enraivecidos porque fui solidário ao outro time.
       Então,a conversa sobre a noite anterior,torna-se inevitável.O bairro é área de risco,ou seja,sem pagar IPTU para justificar a falta de investimento.Os tiros,da noite passada,que ouvimos deixaram de existir ao fim de seu estrondo.As pessoas que podem ter morrido,simplesmente,não existem.Não penso nelas,logo não existem...Não existiam.
- Pô,mané,meu irmão é um Pu**!! - diz um menino de uns 10,12 anos.
- Quê que rolo?! - perguntei.
- Ontem,né?Os tiros foram na minha esquina.É que tinha dois neguinho de moto,e os pila largaram bala neles,né?Aí ,fui lá rapidinho pô!A galera já tinha quase pegado tudo e eu inda consigo pega um nike manero e meu irmão me roba!- disse o menino com a calma taciturna de um urubu que plaina no céu.
       O vazio da existência pesa.Não falo.Não penso.Quase não respiro.Envergonho-me de filosofar.É triste.Meus pés imobilizam-se no chão como presos por bolas de ferro.Todos ouviram,mas ninguém reagiu.É hábito.Não penso,logo não existem.Enjoo-me com o cheiro da sujeira que vem do Planalto Central.E tremo como um estomago com fome.A sobrevivência é dolorosa.Os livros falam.Os políticos prometem.Os professores ensinam.A mídia debate.A realidade esmaga.Dois corpos humanos.Duas vidas,tratadas como objetos,matéria inanimada e jogadas ao nada.
        Desperto.Levanto.Vou embora.O jogo acabou para mim.A existência devorou-me.Escuto,ao longe,o grito de gol.Estranhamente,sorriu.Apesar da destruição moral,vejo uma felicidade pura e carente por indulgência na voz que grita.Era o menino.
        Entro em casa.Esqueço tudo.Essa tarde não existe mais para mim.Espero que torne-se uma recordação; um desses fatos que modificamos para dar sentido ao existir.

Um comentário:

  1. Wow! Esse post e muito bom! Em comparacao com os primeiros, nossa..acho que vc evoluiu MUITO. Reclamava mais da parte estilistica, da forma do texto...e acho que vc se superou totalmente. A inteligencia e o jeito especial permanecem, mas agora sim vc deixou isso a mostra! Meus parabens, pato! =)

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