quarta-feira, 20 de julho de 2011

O amador


                                                                             0-5
O bico.Não é o de papagaio e nem o de caneta.É o bico do peito,da mamadeira,da chupeta.E o seu próprio ''bico amarrado'',seus grandes amores.Percebendo que os iguais atraem-se,faz um grande bico como o trovão que precede a tempestade : o seu choro; e ,assim, consegue todos os bicos que quer.Porém,o tempo passa e a idade avança,cortam-lhe seus amados.Sem saber o que fazer,sente-se perdido,infeliz,acha que o mundo iria acabar.A indignação é tamanha que passa a odiar os antes amados bicos que pensava serem eternos e não foram.
                                                                          6-15
Ler,ou melhor,imaginar.Harry Potter é o nome do bruxo que o enfeitiçou.Aprendeu a gostar de ler,jogar videogame,assistir filme no cinema com ele.Respira fantasia.Chora com as dificuldades da personagem e ri com suas vitórias.Ama o bruxinho incondicionalmente.Aproxima-se da loucura e/ou da felicidade?!?Vai saber.Na verdade,sabe-se que as coisas mudam na roda viva da vida.A estória termina: sem graça e nem glória.Abandona-o na realidade sem dó e muito menos piedade.Sem saber o que fazer,percebe as transformações surreais do seu corpo e enche sua mente de dúvidas.Maldito feiticeiro.Então,começa a odiar Harry Potter  e qualquer coisa lúdica do tipo que o faça pensar que é o magico,quando é a magia metamórfica
                                                                        16-24
As mulheres.Encantadoras,charmosas,perversas.Mas amava uma;AH!Há sempre uma!Aquela tal que hipnotiza-te,embriaga-te,desiludi-te.Escreveu cartas que não enviou.Versou poemas que não declamou.Chorou lágrimas que nunca secaram.Esnobava-o com uma indiferença gélida.É como uma punição por ama-lá de forma cativa.No entanto,água mole pedra dura tanto bate até que fura.Beija-a.Possui-a.Engana-se.Ela não amava-o.Era sexo de vingança.Sem saber o que fazer,amargurado,ressentido,traído,passa a odiar todas as mulheres .''todas umas traíras'' dizia; com ressalvas a sua mãe e avó.
                                                                        25-35
A ciência.A pesquisa cientifica.A faculdade formou-o no amor ao conhecimento espacial.A Ideia de encontrar astros,planetes,vida extraterrestre domina seus estudos.Eram os Deuses astronautas?Sempre pergunta-se.Analisar o céu é sua profissão.Dedicar-se a astrologia o seu amor.Trabalho,muito trabalho.Afinal,quem acredita sempre alcança.Acreditou.E,ainda que o governo questionasse,financiou a construção e teste da aeronave que viajaria a outra galáxia.Todavia,os recursos distribuídos foram insuficientes.De modo que, obrigaram-o a improvisar com material de segunda mão e pessoal incapacitado;e,por conseguinte,testar,por si mesmo,a invenção.Algo dá errado.Ele tem sérias perdas cerebrais.Aposentam-no por invalidez com uma pensão medíocre.Sem saber o que fazer,fragilizado,debilitado,pobre,começa a odiar o governo e a ciência que não curou sua enfermidade pós- acidente.
                                                                      36-44
A criança.Um filho.É,sim.Descobre um filho de onze anos;agora órfã da mulher que ele odeia.Assume seu filho com amor e dedicação.Muda-se para a calmaria do interior onde pode ensinar seu amado serenamente.Dito e feito.Disciplina e diversão: futebol,pipa,bolinha de gude,bailes,shows,festas,provas,provas,provas.O tempo urge,contudo o pai não cortou o seu cordão umbilical ainda.Não deixa o filho transferir de residência para a republica da faculdade.E bloqueia seu dinheiro.Eles brigam.O filho foge com o carro e economias do pai prometendo nunca mais voltar.Sem saber o que fazer,deprimido,atordoado,passa a odiar o filho que largou-o doente e sozinho.
                                                                      45-64
A rotina.Inspira e expira.Acorda de manha.Almoço.Lanche.Janta.Seia.Dorme cedo.E,assim,seguem seus dias.Comendo e dormindo.Sem surpresas.Ama a estabilidade.Nada melhor que seguir deste jeito:a vida estável e sem turbulências.Vento,chuva,destruição:anunciou o noticiário.A cidade refugia-se,exceto ele que não muda seus hábitos diários.A casa cai e suas pernas,também,esmagados pela devastação da catástrofe.Sem saber o que fazer,anestesiado,imóvel no hospital,começa odeia a estabilidade que não o protegeu da instabilidade do clima.
                                                                        65
A morte.A vida.Está feliz.Ama a vida : a única coisa que quando perde-se,já não há mais tempo odiá-lá.E  ama a morte: a única coisa que não decepciona-te.Sabendo o que fazia,desliga seus aparelhos,perde a vida antes que a morte o decepcione.    

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Num dia de sol...

         Enquanto o dia entardecia,esforçava-me para levantar.O silêncio,a calmaria em nada ajudavam-me.No entanto,subitamente,corri.Era o barulho da bola batendo na grade que chamava-me.A magia começara.
        Campo lotado.A praça ferve.A bola rola.O país vai para frente!Ao menos,cinco bons de bola cabulam aula para garantir o futuro e orgulho do Brasil!Risadas,grandes palavras e belas mulheres fazem tabela entre a garotada.
- Tô de outra - digo
- Aaatá!Chego agora já que botá bronca - reclamam
       Obviamente,escolhem-me para a próxima partida.Eram todos meus amigos.
       O jogo começa;a bola passa de lá e vem para cá,sucessivamente.É diversão garantida,mesmo quando,meu time perde.Ainda brinco,riu e zombo.Meus amigos: enraivecidos porque fui solidário ao outro time.
       Então,a conversa sobre a noite anterior,torna-se inevitável.O bairro é área de risco,ou seja,sem pagar IPTU para justificar a falta de investimento.Os tiros,da noite passada,que ouvimos deixaram de existir ao fim de seu estrondo.As pessoas que podem ter morrido,simplesmente,não existem.Não penso nelas,logo não existem...Não existiam.
- Pô,mané,meu irmão é um Pu**!! - diz um menino de uns 10,12 anos.
- Quê que rolo?! - perguntei.
- Ontem,né?Os tiros foram na minha esquina.É que tinha dois neguinho de moto,e os pila largaram bala neles,né?Aí ,fui lá rapidinho pô!A galera já tinha quase pegado tudo e eu inda consigo pega um nike manero e meu irmão me roba!- disse o menino com a calma taciturna de um urubu que plaina no céu.
       O vazio da existência pesa.Não falo.Não penso.Quase não respiro.Envergonho-me de filosofar.É triste.Meus pés imobilizam-se no chão como presos por bolas de ferro.Todos ouviram,mas ninguém reagiu.É hábito.Não penso,logo não existem.Enjoo-me com o cheiro da sujeira que vem do Planalto Central.E tremo como um estomago com fome.A sobrevivência é dolorosa.Os livros falam.Os políticos prometem.Os professores ensinam.A mídia debate.A realidade esmaga.Dois corpos humanos.Duas vidas,tratadas como objetos,matéria inanimada e jogadas ao nada.
        Desperto.Levanto.Vou embora.O jogo acabou para mim.A existência devorou-me.Escuto,ao longe,o grito de gol.Estranhamente,sorriu.Apesar da destruição moral,vejo uma felicidade pura e carente por indulgência na voz que grita.Era o menino.
        Entro em casa.Esqueço tudo.Essa tarde não existe mais para mim.Espero que torne-se uma recordação; um desses fatos que modificamos para dar sentido ao existir.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Por que você acredita?!?

No que você acredita, ou melhor, por que você acredita?Acredita por que  pensou,analisou, experimentou,vivenciou ou por que absorveu,receptou,resignadamente aceitou?
 As tradições,experiência são o grande troféu quando se é senil. Envelhecer  é simples e árido, como diz Gabriel Garcia Marques  faz-se um pacto com a solidão.No entanto,além disso,só se quer que respeitem e façam seus ensinamentos,que acatem suas opiniões sem discussão,que obedeçam seu papel como juiz e apaziguador de conflitos.Com efeito,essa postura gera uma mentalidade retroativa e conflitiva.Quando se é jovem sempre se  vive num mundo em evolução constante e em transformação; o fato de ser  adestrado com determinadas pré-disposição deixa um legado no mínimo preocupante.A sabedoria da experiência,de forma alguma,é desprezível,porém as raízes de conceitos ultrapassados sim.
Os neonazistas,skinheads,homofóbicos,radicais religiosos estão de um lado e os liberais da marcha da maconha,grupos alternativos,os que defendem a criminalização da homofobia de outro.Estes segmentos fazem parte de agrupamentos de minorias que já tem grande papel social e força politica.Os primeiros são radicais que seguem preceitos antigos,infames,irracionais atemporais em relação a atual situação geral mundial.Os segundos,pelo contrário,vislumbram uma realidade graciosa,mas contrastante, que pertence a tendencia  do desenvolvimento humano,mas que ,talvez,ainda não tenha sido alcançado pela grande maioria,não tenha sido incorporada ao habitual de todos.Ambos as vertentes fazem parte da influencia da crença.
A crença é algo no que acreditamos sem necessariamente termos provas racionais,empíricas,as vezes até mesmo emotivas,que comprovem a efetividade de seu conceito.As crenças religiosas são as mais exemplificativas de tal característica da mente humano.
Agora,será que devemos nos tornar refém da crença alheia ou somos livres o bastante para investigar,criticar,personalizar e defender o resultado de nossas próprias crenças para chegar ao conhecimento?A Liberdade nasce quando um ser humano existe.Duvido,logo penso,portanto existo e sou livre.A Liberdade faz parte de um dos pilares da essência da humanidade.A própria escolha de seguir preconceitos é uma ação de liberdade.A atitude de resignação,a mentalidade de incapacidade,de dependência do acaso, nada mais é do que uma escolha que cada uma faz por ser livre.Entretanto,o limiar entre tais escolhas serem uma crença exterior e uma liberdade é tênue.A diferença é : a liberdade te traz satisfação e a crença decepção.A crença é uma algema que prende o conhecimento.A partir de uma crença pode se obter conhecimento verdadeiro?É claro que sim.Tudo é relativo,tudo pode produzir o bem e o mal.Contudo,a crença,em geral, é deturbada e ,principalmente, a crença que  é passada de geração para geração como uma verdade,lei,costume.
Na fábula do elefante de circo,o modo pelo qual o domador faz seu poder valer em relação ao elefante é simples: ele prende o elefante em uma corda com um grande pedaço de madeira fincado no chão,assim o elefante ainda ''criança'' não tem forças para sair,apesar de tentar muito por bastante tempo.Por conseguinte,ele desiste.Passa-se o tempo, o elefante cresce, torna-se muito mais forte que o pequeno pedaço de corda e madeira,mas se quer tentar fugir porque ele acredita que não conseguirá.
Impedir que se torne no elefante e a crença na corda e madeira é atribuição fundamental na busca de conhecimento e felicidade.Para isso,a solução pode não ser tão simples.É preciso pensar com você mesmo.Desmantelar as armadilhas mentais que vivem no submundo do inconsciente.Olhar-se no espelho sem máscara,sem a sobretaxação social,aceitar-se como é e não como te designaram.A partir daí,a vida fica sem inimigos.Então,pode-se,após,a limpeza moral interna lograr conhecimentos mais justo e verdadeiros ou,talvez,que gerem mais felicidade.